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Aumenta-nos a fé

“Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé” (Lc 17.5)


Creio que podemos concordar que a vida cristã é cheia de desafios. Mas a pergunta é: como enfrentá-los? Os santos do passado enfrentaram os desafios da sua época pela fé: “os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões.” (Hb 11.33). Por meio da “certeza de coisas que se esperam” e “convicção de fatos que se não veem”, “os antigos obtiveram bom testemunho” (Hb 11.1-2). Enquanto escrevo, o mundo passa por uma crise. Nesses dias, os cristãos têm falado muito sobre o valor da fé. De fato, o valor da fé é incalculável, por isso, ela não deve ser considerada unicamente nas dificuldades. Mais que usar a fé na crise, precisamos aprender a “viver por fé”. Pela fé somos salvos e por ela perseveramos. Diante dos desafios, os apóstolos pediram a Jesus: “aumenta-nos a fé”. Tal pedido pode nos ensinar verdades preciosas!


“Aumenta-nos a fé” nos ensina que a fé é um dom de Deus. Os discípulos não podiam produzir sua própria fé, o pai de um jovem possesso também não, por isso, disse a Jesus: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!” (Mc 9.24). Esse princípio é oposto ao ensino humanista, que exalta a capacidade humana de gerar dentro de si mesmo ou do outro uma motivação interior, uma “fé” que, na verdade, não passa de um positivismo, uma fé no “eu”, uma fé idólatra. A fé verdadeira não vem de nós, mas de Deus: “porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;” (Ef 2.8).


“Aumenta-nos a fé” nos ensina que a fé produz fidelidade a Deus. No contexto, Jesus ensina um alto padrão requerido aos seus discípulos. Eles não deveriam ser motivo de tropeço, mas de restauração por meio de um perdão sem limites (Lc 17.1-4). A advertência levou-os a um senso profundo de incapacidade e à percepção de que não conseguiriam sozinhos. Ao pedirem fé, os discípulos pediram por capacitação divina para serem fiéis. Enquanto muitos querem fé para receber milagres, somos desafiados a uma fé que, milagrosamente, nos leva à obediência. É urgente compreendermos que a fé em Cristo não nos foi dada somente para nos livrar do inferno e nos levar ao céu, mas também para nos conduzir a uma vida de fidelidade a Deus na terra. Neste sentido, a fé em Cristo deve nos conformar à fidelidade de Cristo.


“Aumenta-nos a fé” nos ensina sobre o valor da fé genuína em Deus. Jesus respondeu:“...Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá” (Lc 17.6). Em outras palavras: “vocês não precisam de uma grande fé, porque uma pequena fé, sendo genuína, faz grandes coisas”. Leon Morris diz que “Jesus tira deles o conceito de maior ou menor em termos de fé, para o de uma fé genuína”. A correção dessa falsa perspectiva foi necessária, pois o pedido, aparentemente piedoso, poderia esconder uma indisposição para obediência. A suposta “falta de fé” não pode ser usada como desculpa por quem não quer fazer a vontade de Deus.


Sempre teremos grandes desafios: temos uma missão no mundo, temos igrejas a serem plantadas, temos pessoas a serem perdoadas, amadas e discipuladas, temos a santidade a ser cultivada, temos pandemias e perseguições a serem enfrentadas. Diante dos desafios, somos chamados a viver pela fé, como as testemunhas do passado. Nesse sentido, “aumenta-nos a fé” pode ser a nossa oração, para que continuemos a carreira proposta, olhando firmemente para Jesus, “o Autor e Consumador da fé”!

MORRIS, Leon L. O Evangelho de Lucas, introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1986.

 

Pr. Guilherme Zimbrão Paim

Professor Residente do SETECEB

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