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NOSSO TRABALHO NÃO É VÃO NO SENHOR

Atualizado: 2 de mar. de 2019

Lendo o livro O Pastor Contemplativo [1], deparei-me com uma afirmação que muito me incomodou quando mais jovem, e percebo que ainda me incomoda quando tenho que enfrentá-la: “O Crescimento É Uma Decisão”.


A famosa pergunta de Hamlet, “Ser ou não ser?”, não é a maior questão para os cristãos. Pode ter sido para William Shakespeare, para o próprio Hamlet ou para qualquer ator que quisesse interpretá-lo. Não para nós.


A nossa maior questão e luta parece ser “Querer ou não querer?”.


E para nós, pastores e líderes, que experimentamos e pregamos um evangelho da graça divina, em que não há lugar para méritos da nossa vontade, somos sempre impactados com a vontade humana versus a vontade de Deus.


Nem o mais ardente calvinista nega a sua luta interior. Mesmo crendo na graça soberana de Deus, não nega que possui vontade própria. Mas, submete-se, mesmo entre lágrimas às vezes, à vontade de Deus. O submeter-se é um ato de vontade. Decido submeter-me!

Entrega! Espera! Confia! Segue! Prega!


Em todo apelo bíblico de entendermos e aceitarmos o governo de Deus em nossa vida, a resposta esperada sempre será a subordinação da nossa vontade em favor da vontade de Deus.


Logo, diz Eugene Peterson, “a minha vontade é a minha glória, mas é também o que mais me dá trabalho”.


O mesmo autor trata de três áreas de nossa vida em que experimentamos os maiores desafios entre o confronto da nossa e a vontade de Deus: a do trabalho, a da linguagem e a do amor. Mas eu quero falar apenas de uma, a do trabalho - Submetendo o trabalho à vontade de Deus.


Desde cedo, todos nós tivemos a experiência de aprender a trabalhar nas pequenas e despreocupantes atividades domésticas. Mas, nada se compara à experiência de nos sentirmos confiantes e independentes com o nosso primeiro emprego. Como isso é bom! Mas como também é perigoso!


Acharmos que já não dependemos que não precisamos mais de quem nos sustente. Logo descobrimos que o dinheiro que ganhamos não é a garantia de que nossas vontades serão soberanas. Logo descobrimos que o dinheiro não paga nem mesmo a nossa liberdade.

Mas, o mais impressionante no trabalho é quando descobrimos que, independentemente do nosso conhecimento e de nossas habilidades, com ou sem a nossa participação, o trabalho sempre será feito. Daí a máxima de que “ninguém é insubstituível”.


Um adolescente, recém contratado, animado com a descoberta do ego maravilhoso, e confiante em suas habilidades que afloram, pode supor que a vida consiste em expressá-lo para a edificação de todos os outros.


Mas, os verdadeiros trabalhadores, os especializados, praticam a supressão do “eu” para que o trabalho aconteça por si mesmo. Observe João Batista: “Que Ele cresça e que eu diminua” (Jo.3:30). Veja Jesus, no testemunho de Paulo: “antes a si mesmo se esvaziou...” (Fp.2:7). Esvaziar é o prelúdio de encher. Nenhum vaso cheio tem utilidade para outra tarefa até que seja esvaziado.


Essa é a noção que cada um precisa ter, e que Eugene Peterson chama de Capacidade Negativa. A pessoa mais útil não é a que se acha mais capaz. Antes, útil é aquele que, apesar de ver-se incapaz, é chamado por Deus.


O que diremos de:

· Jeremias – Sou apenas uma criança / Não digas sou apenas uma criança;

· Moisés – Quem sou eu? / Eu irei contigo;

· Isaías – Ai de mim! Estou perdido! / Vai e dize a este povo.


David Hansen, em seu livro A Arte de Pastorear, falando a respeito do chamado pastoral, diz que a questão crucial do ministério é a negação de si: “Aqueles que se dispõem a sofrer a negação de si são parábolas de Jesus e são pastores”.


O trabalho bem feito cultiva a humildade.


O trabalhador que faz a obra é um servo que permanece em segundo plano. Porque todo trabalho, quando sujeito à vontade de Deus, é um aprendizado no trabalho de Deus.


Que ao trabalharmos, em qualquer área, a nossa consciência esteja pautada na admoestação de Paulo: “...tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor e não para os homens, sabendo que receberão a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo”. E que nossa oração seja como a do Senhor: “Não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt.26:39).


Amém!

Sole Deo Gloria

 

Pr. Ivanei Carlos Martins da Silveira

 

[1] De autoria de Eugene Peterson

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