Em uma obra muito curiosa de C.S. Lewis[1], um diabo velho ensina um diabinho a afastar as pessoas de Deus. A sátira se desenvolve em cartas cheias de instruções maléficas para que o vermelhinho (diabinho) consiga seu objetivo (e, é claro, a igreja saiba as artimanhas dele). Em uma delas o diabão instrui o seu discípulo a adotar a estratégia do “cristianismo e”. Ele diz:
- O que desejamos, se os seres humanos tiverem que se tornar cristãos, é mantê-los no estado mental que eu chamei de “cristianismo e...”. Você me entendeu – o cristianismo e a crise, cristianismo e a nova psicologia, cristianismo e a nova ordem mundial, cristianismo e a cura pela fé, cristianismo e a pesquisa psíquica, cristianismo e o vegetarianismo, cristianismo e a reforma ortográfica[2]
Acrescentar algo ao cristianismo é adulterá-lo a ponto de afastar as pessoas de Deus. Esse é o alerta de C.S. Lewis. E isso não poderia ser mais atual para nós! Como nos tempos bíblicos, a igreja está cercada por movimentos, ideias, falsos ensinos e práticas que desprezam a suficiência de Cristo para nossa salvação.
Quando falamos sobre suficiência, estamos afirmando que Jesus Cristo fez tudo o que era necessário para salvar um povo para si – não apenas dar a oportunidade, mas para realizar a salvação. Ele disse na cruz “Está consumado” (Jo 19.30).
Devemos observar que a salvação é uma dádiva relacionada a nossa união com Cristo. Todas as bênçãos espirituais são recebidas em Cristo (Ef 1.3). Nele, em Cristo, fomos eleitos antes da fundação do mundo (Ef 1.4); por meio dele fomos feitos filhos adotivos de Deus (Ef 1.5). Em Cristo temos a redenção, o perdão dos nossos pecados pelo seu sangue (Ef 1.7).
Segundo o apóstolo Pedro, “pelo seu divino poder nos tem sido doadas todas as coisas que nos conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para sua própria glória e virtude” (2 Pe 1.3).
A carta aos colossenses exalta a Cristo particularmente, mostrando a sua suficiência para salvar e aperfeiçoar os salvos. Para combater um falso ensino, Paulo ensina que Cristo é “a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”. A razão de ser o primogênito não é que ele tenha sido criado, mas que, “[..], nele, foram criadas todas as coisas” (Cl 1.16). “Ele é antes de todas as coisas e nele tudo subsiste” (Cl 1.17). Ele é o cabeça da igreja e o primogênito entre os mortos, para ter a primazia sobre tudo, “porque aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude” (Cl 1.19). Cristo é a esperança da glória para os gentios; e nele estão ocultos “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3).
Contra as vãs filosofias e as tradições humanas que prometiam mais plenitude espiritual, Paulo enfatiza que “nele [em Cristo] estais aperfeiçoados” (2.10a). O chamado aos colossenses é urgente para nós: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele, radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graça” (Cl 2.6-7).
Essa é a mensagem mais importante para nossa juventude. Jovens precisam ouvir que o evangelho não apenas nos garante a eternidade, mas nos transforma para a eternidade. Deveriam aprender que Cristo é um salvador real para pecadores reais. Atualmente, enquanto muitos jovens crentes estão sofrendo devido à sensualidade, do temor a homens e de tantos outros pecados (e da culpa do pecado), muitas igrejas estão oferecendo apenas entretenimento, uma palavra motivacional, um encontro legal com a galera da igreja, uma aula cheia de moralismo disfarçado na EBD.
Jovens, na verdade, todos precisamos de mais pregação bíblica centrada em Cristo, mais músicas sobre a cruz e a ressurreição, mais orações de louvor pelo evangelho, mais encorajamento, conselhos e exortação, mais exemplos de amor e devoção a Cristo a quem possamos imitar.
[1] Lewis, C. S. - Cartas de um diabo a seu aprendiz, Ed. Thomas Nelson Brasil, 2017.
[2] Lewis, C. S. - Cartas de um diabo a seu aprendiz, pg. 108, Ed. Thomas Nelson Brasil, 2017.
Pr. Vinícius Ferreira
Pastor da ICE Nova Vida -SP