Que a nossa salvação ocorre por meio da obra de Cristo em nosso favor é uma verdade aprendida desde os primeiros dias em nossa jornada como discípulos de Jesus. Esse é um ponto central e inegociável da ortodoxia, e por meio dele podemos distinguir se algo que tem sido ensinado procede do evangelho de Jesus ou não. Por meio dessa premissa é possível verificarmos se determinado seguimento, grupo ou igreja pode ser considerado verdadeiramente cristão.
Há um ponto que é um desdobramento dessa verdade, e que precisamos voltar a destacar no ensino de nossas comunidades de fé, que o culto também ocorre somente por meio da obra de Cristo.
Pelos méritos dele é que podemos nos apresentar em louvor e adoração a Deus, pois não existe nada que possuímos ou que façamos que nos torne aceitáveis na presença de um Deus santo. Por esse motivo os méritos de nosso Senhor não apenas garantem nossa salvação, mas também nosso culto a Deus, pois é para essa benemerência que o Pai olha quando prestamos culto a Ele.
Quando em nosso culto, público ou particular, oramos a Deus, dificilmente o fazemos da maneira adequada, como afirmou o apóstolo da graça: “Não sabemos orar como convém” (Rom 8:26). Por isso, precisamos da ação de Cristo em nós tanto para o querer como para o realizar. Se oramos foi porque Cristo nos impulsionou a isso. E se oramos corretamente isso somente ocorre porque Cristo agiu em nós. Dessa forma, nossa oração somente é aceita pelo Pai por causa da excelência da ação de Cristo. Nossa deficiência em orar como convém é sobrepujada pelos méritos de Cristo.
Ao cultuarmos, os méritos de Cristo superam nossa compreensão limitada sobre Deus. A fragilidade de nossa compreensão sobre o divino é um empecilho para um culto agradável. Se dependêssemos exclusivamente de nossas competências intelectuais, nosso cultuar nunca seria aceito pelo Pai. Essa deficiência não pode ser compensada por meio de mais conhecimento ou informação teológica. Se assim fosse, teólogos liberais seriam grandes adoradores e, como é do nosso conhecimento, estes estão mais perto de serem considerados inimigos de Deus.
Nossa falta de capacidade de produzir uma musicalidade que apresente a qualidade que Deus está acostumado, e que merece, é suplantada pelos méritos de Cristo. O divino está acostumado com bom louvor. A natureza não desafina em sua adoração, e não creio que os anjos que o adoram, de dia e de noite, dissonam e desarmonizam no exercício de sua adoração. Louvado seja o Cristo, Ele faz o nosso louvor ser aceito por Deus.
E por que não falarmos de nossa pregação? Por mais que o arauto de Cristo se proponha a estudar o texto bíblico, e assuma o púlpito com a máxima devoção, se não fossem os méritos de Cristo nem mesmo teríamos essa oportunidade. Além disso, quando pregamos Deus age, não por nossa causa, mas por conta da obra de seu Filho. O Pai fala, o Espírito convence os eleitos, por causa do sacrifício do Filho. Exaltado seja Jesus, pois por meio de seu sacrifício pregamos e a pregação produz frutos. Por meio dos méritos de Jesus isso é possível.
Os sacramentos somente existem no culto por causa dos méritos de Jesus. O batismo e a santa ceia somente podem ocorrer porque Cristo encarnou, morreu, ressuscitou e está assentado à destra do Pai. No batismo morremos e ressuscitamos à semelhança de Cristo e graças a Ele. Na santa ceia lembramos, recebemos graça e comungamos com Cristo. Cristo está na ceia! Ela ocorre por conta de seu sacrifício e nela nos relacionamos com nosso mestre. Bendito seja Jesus, pois pelos seus méritos podemos participar desses ritos.
Todos os aspectos do culto somente podem ocorrer por causa de Cristo e de suas obras. Pelos méritos de Jesus nos apresentamos constantemente na presença de Deus, e podemos orar dizendo: “Pai, é mediante aos méritos de Jesus, seu filho, que estamos aqui. Não há nada em nós que nos faça aceitáveis e não existe nenhuma coisa que podemos fazer para mudar essa situação. Com mãos vazias nos apresentamos, sem nada para lhe dar, mas confiamos em Cristo e em seus méritos. Olhe para o que Jesus fez por nós. Veja os méritos de Cristo outorgados a nós, amém”.
Natanael Moreno Tussini
Diretor do Dpto. de Evangelização, Integração, Plantação e Revitalização de Igrejas.