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Jovem, volte para casa

Muitas pessoas deixam a igreja durante a juventude[1]. Isto não é novidade para ninguém. De fato, existem muitas razões pelas quais isso acontece. De todas elas, porém, nada é tão novo como o “desigrejacionalismo”. Permita-me explicar esse neologismo![2]

Em palavras simples, o desigrejacionalismo consiste na ideia de que crentes não necessitam de igrejas locais para crescerem na fé. O pressuposto é que essas mais atrapalham do que ajudam, afinal geralmente têm pastores enfadonhos, música ruim e pessoas complicadas para lidar. Assim, estes jovens desigrejados preferem ficar em casa, onde como bons fregueses, escolhem o “culto online”, a hora e o pregador que lhes agrada.

Dentre os muitos problemas desse pensamento, o maior deles é a distorção do conceito bíblico de igreja. O termo “ekklesia” (igreja) ocorre 114 vezes no Novo Testamento, sendo 109 vezes descrito como o ajuntamento dos crentes, ressaltando sempre o aspecto comunitário da fé. A conclusão é que um crente não pode ser igreja sozinho. A frase “Eu sou a igreja” não faz sentido biblicamente.

Por isso Paulo escreve a um grupo específico de irmãos, “à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome do Senhor” (1 Co 1.2).

Outro bom exemplo de igrejas locais pode ser visto nas sete cartas às sete igrejas da Ásia Menor: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodiceia (Ap 2-3). Em todas essas ocorrências, a igreja é um conjunto de crentes específicos e não indivíduos solitários.

Por conseguinte, a igreja pode ser entendida como “uma assembleia regular de pessoas que professam e dão evidência de que foram salvas somente pela graça de Deus, por meio da fé em Cristo Jesus somente, para a glória de Deus somente”[3]. É exatamente por isso que o autor de Hebreus alerta: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixando de congregar-nos, como é costume de alguns” (Hb 10.24-25a).

O jovem desigrejado está, desse modo, fazendo exatamente o oposto do que Deus quer que faça, a despeito de ouvir sermões bíblicos e boa música pela internet. Nada disso substitui a membresia em uma boa congregação local. Somente ali, ele receberá pastoreio, encorajamento e aconselhamento necessários para crescer à imagem de Cristo, tendo oportunidade de demonstrar amor e serviço aos irmãos.

O desigrejacionalismo é tão estranho às Escrituras como o é à língua portuguesa. Portanto caro leitor, se este tem sido o seu caminho, as Escrituras te chamam a voltar para casa, para a comunhão dos santos em uma boa igreja local.



Pr. Vinícius Ferreira

ICE Central de São José dos Campos-SP

@vinikultor

[1] Uma pesquisa realizada em 2017 pelo instituto LifeWay Research nos Estados Unidos, e divulgada pela revista Christianity Today, mostra entre os jovens de 23 a 30 anos, 66% disseram que deixaram de frequentar a igreja evangélica regularmente por pelo menos 1 ano após completarem 18 anos. [2] O termo “desigrejado” não aparece entre as mais de 380 mil palavras cadastradas no famoso Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) organizado pela Academia Brasileira de Letras. Isso significa que “desigrejado” é uma palavra nova entre os brasileiros. [3] Mark Dever. Entendendo a liderança da igreja. São José dos Campos: Fiel, 2019, p.80.

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