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Liderança pastoral para um culto inspirativo

O culto cristão é o ato mais importante e mais empolgante da vida do homem, pois o próprio Deus tem chamado os povos para a adoração, e esta pode acontecer no chamado culto da vida (1Cor 10:31) e no culto público (Êx 12:16; Jl 1:14; 1Cor 14:26-33; Hb 10:25).


Para o culto público, onde os crentes se reúnem em assembleia solene, Deus pede ao seu povo que haja zelo e temor (Hb 12.28), e há uma ordem ou liturgia requerida por Deus, que é o alvo da adoração.


Para que esta liturgia o agrade, Ele mesmo ordenou um Ministério para dirigir esse culto e velar pelo santo rebanho em adoração. Por essa razão, esse breve artigo se propõe a uma reflexão no Antigo Testamento, Novo Testamento e à luz do culto inspirador.


1. No Antigo Testamento

A Bíblia revela que Deus instituiu Ministros para que servissem como oficiais na direção do culto. “...Também santificarei Arão e seus filhos, para que me oficiem como sacerdotes” (Êx 29:44). Esse ofício seria glorioso em todo o seu significado; sacrificial, no serviço e na cultura religiosa. Deus olharia para o dirigente do culto para receber a adoração e contemplar a beleza do ofício: “Farás vestes sagradas para Arão, teu irmão, para glória e ornamento” (Êx 28:2). “Para os filhos de Arão farás túnicas, e cintos, e tiaras; fá-los-ás para glória e ornamento” (Êx 28:40). Veja que o ofício de Ministrar o culto era algo glorioso e belo aos olhos de Deus.


A instituição de Ministros para a direção do culto também é vista em 1Crônicas 25:6. Havia um rol de encarregados pela música (v.1), mas eles não eram os dirigentes e nem aqueles que prestavam contas pelo culto público. Os sacerdotes o eram. Os músicos responsáveis em tocar no culto administravam apenas o elemento musical e deveriam se submeter aos seus pais, pois estes eram os dirigentes responsáveis pelo serviço e culto da casa de Deus.


2. No Novo Testamento

Além do culto público ser celebrado no Templo, no período interbíblico surgiu o culto na Sinagoga, conhecido como o culto da Palavra. A instrução era o seu ponto central, pois todo o ritual cerimonial era para o Templo. Daí, a liturgia limitava-se à recitação do Shemá (Ouve, óh Israel - Dt 6:4-9), à recitação das bençãos (Shemoneh Esreh) e à leitura da lei com exposição e leitura dos profetas. Essa liturgia era administrada sempre com ordem e em honra da Palavra de Deus.


Para que fosse mantida essa ordem e reverência na adoração, e Deus fosse agradado, o culto era administrado por um dirigente. No texto de Lucas 4:16-20, vê-se essa ordem e a figura do dirigente (v.20). A palavra usada aqui é ύπηρέτη (hypereté). O significado é “oficial”, ou “ministro” em alguns casos. Em todo o N.T, quando aparece essa palavra, mesmo em declinações diferentes, a ideia é a mesma. Uma pessoa que oficializa, ou presta um ofício de serviço e ainda um ministrante.


A igreja do N.T manteve os princípios litúrgicos e eclesiásticos da Sinagoga. Não encontramos fundamento na Bíblia para um culto informal e nem para um culto sem dirigente e conduzido inicialmente pelo grupo de louvor como acontece em algumas igrejas hoje em dia.


A eleição de presbíteros foi instituída para que houvesse ordem na igreja (Tt 1:5). Esses homens seriam responsáveis pelo governo da igreja (1Tm 5:17); pelo pastoreio (At 20:28), pelo Ministério da Palavra (1Tm 3:2; 2Tm 4:2) e por velar pelo rebanho. Nessa última questão, há imperativos muito claros que exigem compromisso e responsabilidade: “...pastoreiai o rebanho de Deus” (1Pe 5:2). Percebe-se que os presbíteros eleitos cumprem os requisitos exigidos em toda a Bíblia para os dirigentes de culto. Eles prestarão contas a Deus de toda a administração espiritual e moral da igreja (Hb 13:17). Por essa razão, aquele que se esforça e preside bem é digno de duplos honorários. São homens honrados e servos dedicados ao Senhor (1Tm 5:17).


3. O papel do Pastor

No Conselho Espiritual da igreja há a figura do pastor. A ICEB diferencia os integrantes do Conselho entre “presbíteros docentes” e “presbíteros regentes”. O presbítero docente, ou pastor, é o Ministro da Palavra e dele é exigida a administração dos sacramentos e a benção apostólica. Os presbíteros regentes são eleitos para cooperar com o pastor. Estes oficiais são responsáveis pela igreja e o culto a Deus, porém ao pastor cabe uma responsabilidade maior.


A razão bíblica dessa ordem eclesiástica na ICEB se encontra na interpretação de 1Timóteo 5:17 e Efésios 4:11. Diferentemente dos luteranos e anglicanos, o movimento reformado observou que entre os presbíteros eleitos havia aqueles que “se afadigam na palavra e no ensino” e no texto de Efésios 4:11 – “Deus concedeu uns... para pastores mestres”. Sendo assim, esses presbíteros que ministram e vivem do Ministério deveriam receber um título diferente pelo seu ofício; ou seja, o de pastor. Sobre isto, Calvino declarou:


“Nós podemos aprender aqui, que havia naquele tempo dois tipos de presbíteros; pois não foram todos ordenados para ensinar. As palavras significam que “governam bem” e com honra, mas não todos ao ofício de ensino. E, de fato, foram escolhidos dentre o povo homens de valor e bom caráter, que unidos aos outros presbíteros exercem em Conselho e autoridade na administração e disciplina da igreja... Ambrósio reclamou que esse costume havia sido desutilizado na igreja pelo orgulho e desejo de poder” (Calvino, comentário de 1Timóteo 5:17).

Calvino ainda diz que “Satanás, para privar a igreja do ensino da Palavra, faz com que as pessoas não cuidem de seus pastores e se tornem ingratas e isso é um truque que ele utiliza”. Quando o pastor deixa de cumprir sua responsabilidade como dirigente do culto, o povo constrói bezerros de ouro, semelhante ao que Arão permitiu o povo fazer.


4. O pastor e o culto inspirador

Se o pastor é responsável pelo culto e prestará contas a Deus ele precisa ter certeza de que, à luz da Palavra, o culto público da igreja agrada a Deus. Depois ele precisa analisar, à luz da experiência da comunidade, se a congregação tem conseguido se achegar a Deus e se estão sendo elevados em espírito a uma intimidade pessoal e coletiva com o Senhor.


Nesse caminho, gostaria de sugerir alguns passos para que nosso culto seja bíblico e inspirador.


O primeiro, é considerar fielmente as Escrituras na elaboração do culto. Não é verdade que a Bíblia se silencia sobre a ordem de culto, há diversos livros e teólogos que militam nesta seara, demonstrando princípios e elementos para o culto a Deus.


Depois, o pastor poderia instruir os presbíteros sobre o ensino bíblico para o culto e a liturgia, a fim de que estejam preparados para a direção e a orientação dos membros. Treine seus presbíteros e caminhe com eles na oração e no ensino. Elabore com eles uma liturgia, incluindo os elementos essenciais do culto e uma ordem a ser seguida, considerando qual é o melhor momento para encaixar os elementos, como um elemento pode promover o seguinte e como essa ordem pode ser bonita e instigante para a adoração. O tempo também deve ser analisado e estabelecido, um culto com muitos espaços entre os elementos e uma administração malfeita pode atrapalhar a concentração e causar divagação nos congregados. Use o tempo com sabedoria e de forma útil.


A última sugestão é que o pastor poderia considerar o aspecto espontâneo no culto. O dirigente precisa ter fogo no coração e fazer com que esse fogo alcance a congregação para que, cheios de vontade, adorem a Deus. As pessoas se sentem mais motivadas quando participam dos elementos do culto. Como dirigente ele poderá escolher algumas pessoas para a oração, leitura de um texto e até mesmo para trazer uma breve palavra de encorajamento e testemunho para a congregação. A Bíblia diz “Ora, quando vos reunis, cada um de vós tem um salmo, ou uma mensagem de ensino, uma revelação, ou ainda uma palavra em determinada língua e outro tem a interpretação dessa língua. Tudo seja feito para a edificação da Igreja” (1Cor 14: 26), e essas oportunidades trazem inspiração e desejo pelo culto a Deus. Entretanto, a participação dos membros não tem como propósito revelar informalidade ou desleixo, mas demonstrar a espontaneidade e a importância do culto ser de fato congregacional. O pastor como dirigente deve manter a ordem e conduzir esse processo de participação e ainda analisar se aquilo edificará ou trará desordem.


O pastor não ocupa uma figura de clero e sacerdote, mas uma figura de Ministro e dirigente, que mantem a ordem e guia o povo para que, de forma inspirativa, motivadora e cheia da presença de Deus possam todos adorar, como a verdadeira Igreja de Deus.

 

Pr. Glauco Pereira

Diretor da Missão Cristã Evangélica

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