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Teologia Coach – Uma abordagem que conduz à autorreferência

Não é de hoje que a igreja brasileira lida com modismos. Já tivemos por aqui alguns fenômenos do movimento carismático trazidos pelos neopentecostais, o G12 vindo da Colômbia, o MDA, e nos últimos anos temos visto o crescimento da chamada Teologia Coach.

Primeiramente devemos ressaltar a natureza da função de um Coach. O Coach é um profissional que presta serviço para empresas. Esse trabalho pode ser definido das seguintes formas:


Tipo de relacionamento no qual o Coach se compromete a apoiar e a ajudar o aprendiz.

Processo que ativa as redes de cooperação.


Ferramenta para lidar com a diversidade.


Partindo apenas destes pressupostos, constatamos que no ambiente corporativo, a presença de um Coach que pratica o coaching com determinados funcionários para alcançar melhores resultados, não é em si algo ruim. O grande problema é quando as pessoas querem levar esta mesma abordagem para os sermões ou para o aconselhamento, ou na pior das hipóteses para as duas áreas da igreja. Isso porque quando o coaching deixa de ser uma assessoria praticada no ambiente corporativo e se torna uma teologia pregada ou praticada na igreja ela conduz os indivíduos a uma postura ensimesmada ou autorreferente.


Isso acontece pelo fato da teologia coaching ser fortemente humanista. O coaching utiliza técnicas humanas para ajudar um indivíduo para que este alcance seus objetivos humanos. Muitos pastores e líderes têm enveredado por esse caminho. Tratam suas pregações como preleções de autoajuda, uma espécie de fé na própria força de vontade, tais líderes corrompem o evangelho. O foco está naquilo que o homem pode fazer através da sua fé pessoal. Essa fé até que considera a pessoa de Jesus Cristo, mas que tem seu objeto na sua própria pessoa e nos seus esforços dirigidos, e não na glória de Deus.


Outra característica presente na teologia coaching é o materialismo, ou seja, uma ambição enorme em conquistar coisas. Sejam elas bens de consumo ou qualidades de caráter ou de espírito como paz, relacionamentos saudáveis, sucesso conjugal, filhos bem-sucedidos, abstinência de vícios etc. As pessoas querem conquistar, possuir e galgar êxito, sendo tudo isso fruto não do processo de dependência humilde, mas da autoconfiança. Quando essa abordagem entra na igreja o pastor se torna um coach cujo trabalho consiste em “encorajar, apoiar e despertar nas suas ovelhas o seu melhor potencial para que esta por sua vez conquiste tudo o que deseja”. É exatamente isso que essa mistura humanista-materialista busca: o melhor de cada ser humano para conquistar aquilo que ele tanto sonha. Nesse aspecto a “teologia coach” não difere muito da sua irmã mais velha conhecida como teologia da prosperidade que em seu cerne ensina a mesma teologia da antiga canção da Xuxa: “Tudo o que eu quiser, o cara lá de cima (uma referência a Deus) vai me dar...”.


Isso tudo nos conduz à terceira marca da teologia coach, que é a idolatria. A. W. Tozer nos diz: “o idólatra é aquele que imagina coisas a respeito de Deus e age como se estas coisas fossem verdadeiras”.[1] Vemos isso na teologia coach. Ao empreender uma busca pelo potencial dos indivíduos, a dependência de Deus perde o sentido. Deus na teologia coach é buscado como um avalista que endossa ou garante os planos e projetos humanos geralmente recheados de ganância, nada poderia estar mais distante da teologia de oração proposta por Tiago (Cf. Tiago 4). Desse modo, Deus não passa de um colaborador dos alvos e objetivos de indivíduos cheios de si mesmos. Na teologia coach quem exerce a soberania acaba sendo o homem por meio das suas decisões de fé e esforço próprio.


Em inglês o Coach é o cocheiro, isto é, aquele que conduz uma carruagem. Se usarmos a figura do condutor para avaliarmos a teologia coach chegaremos à conclusão de que ela cumpre seu papel em conduzir. Porém, o caminho para o qual ela conduz é a formação de indivíduos ensimesmados ou autorreferentes, gente que se estabelece como padrão de autoridade e referência para si mesmas; gente que acredita que as repostas aos seus problemas e os mecanismos de conquista estão dentro de si mesmas; gente cujo grande alvo na vida é ser a melhor versão de si mesmo e não à conformidade com a imagem de Cristo. Se de certo modo não há nada de novo debaixo do sol, a teologia coaching nada mais é do que a antiga perspectiva psicológica de Carl Rogers com roupas modernas.


Devemos estar atentos e de sobreaviso contra todas as manifestações da teologia coach nas nossas igrejas. O nosso melhor antídoto contra esse veneno é a crença na suficiência da Palavra de Deus. Essa crença deve reverberar na pregação expositiva e no aconselhamento bíblico.

Pr. Carlos Eduardo Morais Borring Valderrama

Professor do SETECEB

[1] TOZER, A.,W. Mais perto de Deus. São Paulo, Mundo Cristão, 1984, P.10

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